Vocês podem me mostrar onde é que vocês moram? Com esta pergunta a artista paulista Graziela Kunsch iniciou uma conversa com as crianças do projeto SEMEAR - semeando hoje o futuro do amanhã -, na sede campestre da ASSIPREB, localizada na rua Dona Ana, em Ananindeua, no dia 23 de fevereiro de 2012. As crianças, que vivem nas comunidades ao redor da rua Dona Ana - Sta. Helena, Jardim Botânico, Samambaia, São José, Geraldo Palmeira, Nova Independência, Maria Pantoja, Nair Cabral e Fernando Correia - se dividiram em grupos e se debruçaram em cartolinas, pincéis atômicos e giz de cera para representar no papel os lugares que são importantes para a vida delas. Foram desenhados mapas com as casas onde moram, as igrejas das diversas religiões, a mata que dá o nome para a comunidade do Jardim Botânico, o rio Uriboca, seus espaços de brincadeiras (como o Cineclube da Irmandade dos Rosário na alameda Alcebíades e a prática de esportes no clube da ASSIPREB) e as casas das quituteiras onde costumam merendar. As situações de perigo também foram identificadas, entre elas a localização de escolas - quase todas distantes das comunidades -, a ponte improvisada sobre o rio Uriboca, a travessia da BR 316 e a longa distância até as paradas de ônibus.
A ideia da placa foi inspirada nas placas de rua feitas à mão colocadas dentro da Comunidade Jardim Botânico e a ideia dos pés de jambo nasceu a partir de um relato de Arthur Leandro, que antes de se tornar morador da área ia ali aos finais de semana, há 44 anos, para brincar no quintal da casa de seu avô (chamado Alcebíades, é por isso que a alameda onde está a casa se chama Alcebíades!). Nesse quintal dava para tomar banho de rio e ver tatus, cotias, jacarés, jibóias, veados, peixes como puraqués, jandiás, acarás e jijus, pássaros aquáticos como socós e manguaris, marrecas e garças. As crianças ficaram sensibilizadas sobre o quase desaparecimento da mata e pensaram nos pés de jambo, que faz parte da identidade da cidade de Ananindeua e é uma fruta muito gostosa.
A pavimentação das ruas de terra com asfalto também apareceu como desejo em vários relatos dos moradores e das moradoras, anseio de um dia poderem chegar a seus destinos sem ter de atravessar ruas enlameadas. Arthur falou então que a pavimentação não precisa ser com asfalto, que o asfalto eleva a temperatura da cidade e não permite a absorção de água pelo solo - o que afeta as nascentes de água e causa impactos ambientais irreversíveis -, e disse que existem outros materiais que podem pavimentar as ruas sem causar esses impactos, como os bloquetes intertravados, e que essa pavimentação aliada à sombra que virá com a arborização urbana dos pés de jambo vai proporcionar maior conforto ambiental para a área.
Para o projeto SEMEAR os mapas construídos com as percepções e desejo de futuro das crianças poderão ajudar a construir uma pauta de negociação das associações de moradores com a prefeitura de Ananindeua.
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