Os artistas mostraram seus trabalhos para os jovens da Irmandade e propuseram assuntos que relacionavam arte e política, participação social e trabalho comunitário. Falaram da cidade como um campo de lutas onde interesses diversos se enfrentam, e que essa divergência de interesses por vezes se transformam em conflitos. “Há diferentes projetos de cidade em conflito; qual é o projeto de vocês para a cidade onde moram?”, perguntou Graziela para os jovens enquanto mostrava vídeos do pessoal transformando terrenos abandonados em local de moradia compartilhada, desenhando ciclofaixas nos asfaltos e pulando catracas dos ônibus.
Em meio aos vídeos do Projeto Mutirão estava uma ação de rebatismo popular da avenida Jornalista Roberto Marinho para avenida Jornalista Vladimir Herzog, em São Paulo. Na sequência desse vídeo, Arthur Leandro, responsável pelo cineclube, mostrou o vídeo “7 de janeiro 2007 - 172 anos de Cabanagem”, de homenagem a Eduardo Angelim, líder Cabano, que mostra o rebatismo popular da rua 13 de maio, em Belém, para rua 7 de janeiro. Explicamos: Angelim residia na rua Formosa, que depois mudou de nome para a atual 13 de maio. Mas quem pensa que o nome tem algo a ver com libertação dos escravos está muito enganado. 13 de maio de 1836, data que a rua 13 de maio homenageia, foi a data em que os legalistas se apoderaram da cidade de Belém. É a data que comemora a rendição de Angelim. A data em que Belém foi bombardeada. O nome da rua foi dado em memória da vitória das forças legalistas portuguesas sob o comando do Comandante de Armas Francisco José de Souza Soares de Andréa. Já 7 de janeiro de 1835 foi o dia em que os cabanos sairam do Murucutu e tomaram de assalto a cidade de Belém... No vídeo, 172 anos depois, Eduardo Angelim recebe a homenagem de ter o nome da rua onde viveu batizada com a data de sua vitória.
No decorrer da conversa os problemas enfrentados pela Irmandade dos Rosário e pelas comunidades vizinhas também entraram na pauta, e trouxeram para a conversa uma outra forma de participação social, a participação em mutirão onde as próprias comunidades se juntam para resolver os problemas que lhe atingem e que os prefeitos e governos fingem não conhecer. Grazi então falou da experiência que tinha tido nos dias anteriores com as crianças do Projeto SEMEAR, e disse que o Arthur Leandro havia falado da preocupação ambiental com o processo de urbanização no entorno da rua Dona Ana, e que havia proposto arborizar as ruas das comunidades com jambeiros, que é uma fruta nativa das matas de Ananinduea e que na época da florada deixa um tapete cor de rosa no caminho de sua sombra.
Foi quando os jovens se comprometeram em reciclar embalagens “longa vida” e garrafas de plástico para fazer um viveiro de mudas dos jambeiros do sítio para no futuro envolverem os vizinhos em um mutirão para plantio comunitário de jambeiros nas ruas das ocupações da Dona Ana.
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